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2º PRATA DA CASA | CONHEÇA OS FINALISTAS: ARIEL FEDRIZZI — CATEGORIA CRÔNICA

  • Foto do escritor: Casa Brasileira de Livros
    Casa Brasileira de Livros
  • 14 de jul.
  • 4 min de leitura
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SOBRE O AUTOR


Muito prazer, sou Ariel. Professor de inglês e um eterno aprendiz. Tradutor e um curioso das palavras. Apaixonado por ouvir histórias e um aspirante a publicar as próprias.


Natural de Caxias do Sul, RS, cresci rodeado de livros, e, desde pequeno, recebi incentivo de familiares para nutrir meu eu leitor.


Hoje, entre diversos projetos engavetados e um punhadinho de ideias brilhantes – passando, claro, por cochilos e cafés –, tenho, na escrita, um caminho para dar voz a quem não é ouvido e trazer luz ao que não é visto.


Coleciono contos e poemas na mochila, e algumas crônicas publicadas em antologias e jornais – algo de que tenho imenso orgulho. Possuo, também, um livro de suspense prontinho para o lançamento... Ainda é cedo para rufar os tambores?


Além disso, nutro enorme estima pelos Cards Literários, minha engenhosa criação que, desde 2019, une o deleite de uma boa leitura à velocidade da tecnologia e da inovação.


Não sei que confins posso vir a desbravar na aventura de contar histórias... mas sei que a graça está, justamente, em permitir-se a descoberta. Brindemos às páginas ainda desconhecidas!




A CRÔNICA FINALISTA


RECEITA PARA RESTAURAR O AUTOAMOR APÓS RELACIONAMENTOS QUE EXPIRARAM


É tarde de domingo. O sétimo dia, tradicionalmente melancólico diante dos atarefados outros seis, também representa aquele em que a solidão ameaça engolfar o cerne e engoli-lo por inteiro.

Decidido a usar da arte da confeitaria para espantar a tristeza, para sová-la até que se torne um apetitoso croissant – afinal, não é da dor que se alimentam os artistas? –, você abre os armários em busca de insumos. O que encontra, porém, são apenas resquícios de ingredientes esquecidos no tempo.

Da mesma forma que ainda olha para o outro lado da cama e se surpreende ao ver os sulcos de um rosto – aquele rosto – impressos no travesseiro, ou sabe que seu coração ainda pula uma ou duas batidas quando se depara com a escova de dentes sobressalente no banheiro, ou o par de roupas íntimas na gaveta, ou a aliança deixada para trás, a ausência é barulhenta e tem o timbre de uma voz em específico.

Mais um motivo para distrair os pensamentos com uma receita qualquer, não?

Você começa preparando o terreno: acostumando-se à cozinha vazia, ao calor do próprio toque, aos jantares no singular. Em seguida, quando percebe que mesmo uma ida ao cinema desacompanhado não mais lhe causa desconforto, sabe que é porque chegou a hora de, literal e metaforicamente, colocar a mão na massa...

Mistura. Separa. Corta. Mistura as memórias do que foi vivido de bom com as lembranças aprazíveis que já carregava de antes: não há mais “momentos agradáveis por causa do relacionamento”, apenas uma caixa de saborosas recordações de todos os tipos, com todas as tribos, em todos os tempos.

Separa o que pôde aprender com aquela pessoa; as lições que pode levar adiante. Embora os dias finais tenham sido pesados, muita coisa bonita foi construída, e não há motivo para deixar-se levar pela mácula.

Corta as ervas daninhas que ameaçam comprimir o coração. Você entende, agora, que o que se lê e vê na internet nem sempre se faz aplicável. Aqueles que conseguem manter uma amizade ou seguir tendo contato, que assim o façam. Os que conseguem reassistir a vídeos antigos, acompanhar stories, revisitar presentes dos tempos de casal, que os apreciem moderadamente. Mas que não preguem a todos os outros, principalmente àqueles que ainda sangram, que precisam fazer igual.

PLAFT! Enquanto pondera sobre ausências e decisões, você aparentemente comete um deslize. Ao olhar para a pia, em frente, repara que algo se partiu.

De início parece complicado juntar os caquinhos do autocuidado, e o primeiro desejo é de render-se ao momento: quebrar o que ainda restou da tigela, do prato, da autoestima; tornar a chamar aquele nome; abrir fotos antigas – as temidas recaídas.

Só que, versado na arte de acarinhar a própria tristeza, você agora entende que é preciso senti-la por completo, para que ela o deixe apreciar de verdade o que vem depois. Qual a graça do prato principal sem um aperitivo? Do almoço entre amigos sem a cerveja e os percalços durante o preparo?

Qual o propósito da sobremesa sem a refeição?

Enquanto limpa os fragmentos, você compreende. Você os compreende e compreende a si próprio. Assim que volta as atenções para a gororoba que se propôs a inventar, ela já não tem um aspecto tão ruim.

Pelo contrário: a primeira colherada, para medir a quantidade de sal ou ver o quão agridoce ficou a mistura, até lhe provoca um vincar de testa. Conforme segue a experimentar a alquimia, porém, mais e mais familiar ao palato ela se torna.

Uma vez concluída a etapa de limpeza – da pia e, principalmente, da alma –, a receita é levada ao forno. Dores e sorrisos; falhas e virtudes; traumas e aprendizados: é ali que tudo se une na fermentação de algo único e até então desconhecido.

Enquanto cantarola em uníssono com o tique-taque do forno numa tarde dominical, você aprende a apreciar a bela obra inacabada que tem diante de si.

Bon appétit!


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