2º PRATA DA CASA | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: ARTUR CUNHA — CATEGORIA POEMA
- Casa Brasileira de Livros
- 15 de jul.
- 4 min de leitura

SOBRE O AUTOR
Artur Souza da Cunha
28 anos
Formado em Direito pela FDSBC
Pós graduando em Direito Público pela mesma instituição
Escrevente Técnico-judiciário do Tribunal de Justiça de São Paulo;
Publicado nas antologias Amor Nímio, Vol.1 (poema) (Editora Persona) Veracidade, Vol.8 (conto) (Ases da Literatura) e Coletânea de Contistas Contemporâneos (conto) (editora persona).
O POEMA SEMIFINALISTA
Ícaro Renascido
(Uma Ode à conquista de Andrômeda)
I
Os rudes intelectos, pobres cegos,
Enxergavam nas trevas
As estrelas qual fossem simples flores,
E o céu qual um jardim;
E estas flores, diziam,
Tinham no néctar todos os segredos,
Toda a chama da vida na corola,
E todo o caos em seu interior…
Neste tempo perdido
Em que a Terra era fria, as poucas tribos
Cobriam-se com flores
Para serem cobertas com estrelas.
Perguntava a criança sobre as vestes,
O ancião respondia que era assim
Porque os deuses assim o desejavam
No coração dos Homens.
E um homem, então, Ícaro,
Os mistérios querendo devassar,
Pediu asas de cera a Dinamene -
A amiga das abelhas.
Voou… voou… bem alto…
Mas as chamas do Alto
Derreteram as asas
Daquele ousado Mito.
E agora, na Cidade, assistindo
Na telinha que levo sempre à mão,
À gigante conquista da galáxia,
Me dou conta de que ao Mito somente
Faltou que as asas fossem de metal,
E que os sonhos de lógica ou cálculo fossem.
Eu canto a inevitável evolução!
Eu canto a progressiva força do Pecado Original!
II
Ao longe, sob o véu purpúreo e grave das estrelas próximas, e os avisos multicores [das nebulosas, das caudas dos cometas,
De tufões de outros sóis, de anéis de outros planetas, de outras translações, de luzes [alienígenas,
Vai-se o foguete…
Ao infinito mar sem brisa, com a audácia dos primeiros marinheiros nortenhos,
Com a coragem infantil dos veleiros de Colombo,
Vai-se o foguete…
Com o Cérebro e o Coração humanos rugindo nas turbinas;
Vai metálico…
Vai glorioso…
Parcimonioso e sem medida como as leis naturais
Que um dia Newton vislumbrou diante de seus olhos azuis!
Vai belo…
Vai rasgando o espaço-tempo…
Vai banhando o espaço- tempo em óleo e fumaça…
Vai queimando as flores que Ícaro desejou um dia,
Transformando-as em sistemas, estrelas, planetas, sempre a aguardarem a aprimorada [humanidade!
Vai exato, vai artístico…
Vai materializando os impulsos elétricos que animaram a pena de Shakespeare, o giz [de Einstein, a boca de Lutero…
Vai transmutando o mito de Ícaro na Pedra Filosofal que povoou os sonhos de Flamel [e Paracelso…
Vai consubstanciando o mito da salvação prometida a todos nós por Jesus Cristo há [mil séculos atrás…
Vai renascendo Ícaro em cada nanômetro da sua lataria, em cada rosto de carne e [metal no vidro da sua escotilha…
Vai refletindo num raio de sol toda a História Humana que agora culmina em ti, desde [o coacervato até o Homo Deus.
Vai construindo o rosto cilíndrico e inevitável da Evolução,
Vai construindo-o de fora para dentro!
Porque tu, ó foguete,
Ó metal que compõe o foguete,
És a nova seleção natural, o novo barco eterno de onde tudo provém, e em onde tudo [se vai…
Quem é o seu piloto? O Homem!
O Homem de carne e metal que empunha o leme da Ciência -
Caronte que se revoltou e dominou o Hades! -
Primata que se tornou Deus!
Vai-se o foguete…
Convulsionando entre as borrascas do vácuo sideral,
Triunfando sobre as borrascas do vácuo sideral,
Para os estranhos e brilhantes braços de Andrômeda,
Para a sideral ilha selvagem irmã da nossa…
III
Os bárbaros das Américas e da Oceania foram beijados por esta grande mãe que é a [Civilização;
Mãe democrática, mãe que reparte o pão civilizatório em quantos forem os seus [filhos!,
Mãe cujo leite é inesgotável, que se mostra severa apenas para sorrir ao filhote que [aprendeu a lição!
Mãe sem pai, que não precisa de auxílio para exercer a sua Naturalidade! Eu te saúdo [agora, Mãe Universal!,
Deste outro canto do Universo!
Beijaste, Mãe, esses pobres povos, esses bárbaros alienígenas…
Revelastes a eles quão inútil é o amor, a fé, a magia,
Frente à Tecnologia, e os Bandeirantes de Metal…
Que são as dores dos amantes, o luto maternal, a morte daquele que incorporava o [ancestral ?;
Que são as crendices nascidas em cérebros diversos dos nossos,
Os cantos entoados em vozes exóticas,
As danças em um compasso inteiramente próprio, anti-humano,
Os ritos,
Os batuques dos tambores feitos de troncos ocos
Cor de néon e de couro de animal?;
Que são suas poesias desconhecidas,
Suas matemáticas desconhecidas,
Seus heróis, seus dramas, seus conflitos desconhecidos?
Que são seus deuses, seus santos, seus semideuses, suas igrejas desconhecidas?;
Que é a hospitalidade ignorante desta outra gente que nasce das árvores,
Que não entende que a Sobrevivência não tem tempo para hospitalidade,
E nem para a gratidão?
Que são os estranhos e imensos guardiões a ocultarem as ventosas nas brumas do [Infinito?
Que são esses crepúsculos, essas noites, essas manhãs
Tão inocentemente
Tão violentamente diversos de tudo o que o cérebro humano já viu ou concebeu?;
Que são as cidades, as colônias, as nações,
Que é tudo isto que pensávamos só existir na Via-Láctea, e da forma como o [pensávamos?;
Que é tudo isto
Frente à força do teu beijo flamejante, Mãe…
Frente à sacralidade selvagem da Tua maternidade e do Teu amor…
Frente ao imperioso Direito Natural que assiste a esta pobre gente sem que ela o saiba [ou permita?
Ó abençoado beijo civilizatório! Os mundos de Andrômeda nascem mergulhados na [escuridão,
Mesmo rodeados de estrelas…
Acende-os!
Incendeia-os nas chamas que dançam nas vitoriosas asas de Ícaro,
Porque elas não derreteram!
Incendeia-os na Luz,
Na única verdadeira Luz
Dos nossos carros, geladeiras, computadores, televisões, anúncios e celulares!
Na Luz para a qual todos os pescoços estão - e devem estar! - eternamente curvados
Em adoração hipnótica…
Sempre em oração sorridente.
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