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2º PRATA DA CASA | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: GUILHERME DOS REIS — CATEGORIA CRÔNICA

  • Foto do escritor: Casa Brasileira de Livros
    Casa Brasileira de Livros
  • 11 de jul.
  • 4 min de leitura
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SOBRE O AUTOR


Guilherme dos Reis é, desde a infância, um escritor amador. Parábolas, crônicas, poemas, contos, romance... mistério, comédia, ficção científica, romance... até roteiro para história em quadrinhos e livro-jogo – tudo experimenta, com espírito de aventura e diversão. E um pedaço de si mesmo encontra em cada gênero, em cada ideia, em cada texto.



A CRÔNICA SEMIFINALISTA


A BELA


Todas as semanas compareço às aulas de gramática. O assunto programado para hoje é regência verbal. Minha atenção, no entanto, está voltada à bela. Chamo-a de bela porque não sei seu nome, com verbo transitivo direto. Nesse sentido, de “tachar”, também pode ser transitivo indireto... Não há problema, chamo à moça de bela, craseando. Também posso chamar a moça, bela. Ainda é transitivo direto, mas a vírgula se faz necessária para separar o objeto direto do predicativo. Por fim, chamo-lhe bela, novamente indireto, convertendo, portanto, para “chamo à moça bela”. Se chamasse a moça bela, sem crase, estaria dizendo seu nome, pedindo sua atenção. Não teria coragem. No máximo posso invocar seu nome, quando estou sozinho no apartamento, e nesse caso teria que usar o “por”: Chamei pela bela moça em um momento de solidão. Já uma situação que nunca ocorreria seria chamar à atenção a moça bela, com crase. Ela nada faz de errado, por que a repreenderia?

A aula prossegue. O professor diz que o verbo “agradar” pode ser transitivo direto ou indireto, mas que muda o sentido. É bem fácil fixar o conteúdo: faço de tudo para agradar à moça, uma vez que desejo ser agradável. Entretanto, o que quero mesmo é agradar a moça, que, sem crase, significa “fazer carinhos”.

O verbo que o professor comenta agora é “aspirar”. Como as coisas são simples, não? Sentado atrás dela, eu aspiro seu perfume, transitivo direto. Embriagado com o delicioso cheiro, aspiro ao seu delicado beijo, transitivo indireto porque denota apenas minha vontade.

O verbo agora é “comparecer”. Logo ela me vem à mente, pois a bela é o principal motivo que me faz comparecer à aula, supostamente a atividade a qual eu deveria prestar atenção. Como o verbo, quando se refere a local, pode levar a preposição “a” ou “em”, posso dizer tanto que “a bela é o motivo que me faz comparecer à sala de aula”, quanto que “ela é o motivo que me faz comparecer na sala de aula”.

“Preferir”... Ah! Esse é muito fácil. Sei bem que prefiro a bela à qualquer outra das moças, verbo transitivo direto e indireto. Só não digo que prefiro mil vezes porque seria redundância. Tampouco cometeria o erro de dizer que prefiro as outras moças do que ela, afinal o “do que”, ou mesmo o “que”, não devem ser usados na comparação com esse verbo. Ademais, prefiro ela às outras, agora craseando porque são moças específicas, as da sala, exigindo o artigo.

Quando o verbo é “assistir”, também tenho o exemplo certo. Todos os dias assisto ao seu ritual de mexer nos próprios cabelos, V.T.I. quando no sentido de presenciar, ver. E se ela pedir meu auxílio, não pensarei duas vezes. No mesmo instante vou assistir ao seu estudo, ou assistir o seu estudo. Tanto faz. O verbo no sentido de “dar assistência” pode ser transitivo direto ou indireto. O que se faz é dar preferência ao direto para evitar um erro de interpretação. Eu não vou ficar vendo seu estudo se ela me pedir ajuda, como pode dar a entender em “assistir ao seu estudo”. Se uso a forma “assistir seu estudo” fica claro que estou me disponibilizando. Só que assistir também pode significar “caber, pertencer”. Nesse caso também será transitivo indireto: Assiste aos estudantes a incumbência de admirá-la todos os dias. Quanto ao significado de “residir”, o verbo é intransitivo locativo, e basta colocar o “em”: Ainda bem que nós dois assistimos em Brasília.

O verbo é “deparar”? Que assunto simples! Já que pode ser transitivo direto ou indireto com a preposição “com”, posso dizer: No momento em que eu deparei com você, percebi o quanto era linda. Tudo bem, eu nunca teria coragem para falar isso. Mas poderia dizer: Deparei o seu caderno caído no chão, por isso o coloquei de volta ao lugar. Ou ainda: Uma qualidade deparou-se aos meus olhos: sua beleza! Tudo bem, também não teria coragem de dizer essa frase, o que não muda o fato de que o verbo, com o “-se” tem outro significado, o de “surgir”, e não deve ser usado com a preposição “com”.

A aula já está acabando quando o professor começa a corrigir o desafio. Ele avisa a resposta certa aos alunos, no sentido de “comunicar”. Também poderia “avisar aos alunos a resposta certa”, ou “avisar os alunos da resposta certa”. Qualquer um dos exemplos está certo...

Exatamente no instante que desgrudo os olhos da bela para ouvir o professor que ela me pergunta se eu sei a resposta do primeiro desafio do dia. Respondo a ela, com o verbo transitivo indireto. Respondo que cheguei atrasado, com verbo transitivo direto. Respondo que não sabia a ela, com verbo transitivo direto e indireto, preservando a ordem direta, porque se dissesse “respondo a ela que não sabia a resposta”, você, leitor, poderia pensar que eu estava sendo repetitivo, comunicando novamente que ela não sabia a resposta. Livro-me do pleonasmo e levo para casa a doce lembrança de sua voz, se dirigindo a mim.

Semana que vem haverá outra aula... mal posso esperar!


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