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2º PRATA DA CASA | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: RENATO ROSA — CATEGORIA CRÔNICA

  • Foto do escritor: Casa Brasileira de Livros
    Casa Brasileira de Livros
  • 12 de jul.
  • 2 min de leitura
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SOBRE O AUTOR


Sou Renato Rosa, trabalho no Museu da Loucura em Barbacena/MG, autor do livro "Barbacena 120 anos de Psiquiatria", e, no concurso 2° prêmio Prata da Casa, concorri com a crônica semifinalista: "Loucura e lucro: Negócio ou delírio? O Mercado da Insanidade.", de minha autoria.



A CRÔNICA SEMIFINALISTA


Lucro e loucura: Negócio ou delírio? O Mercado da Insanidade.


No Brasil, investir na loucura sempre foi um negócio brilhante. Não me refiro, evidentemente, à política – essa opera em uma categoria à parte –, mas aos manicômios, essas instituições visionárias que, desde os tempos de D. Pedro II, compreenderam que a angústia humana poderia ser convertida em capital. A insanidade sempre teve um valor de mercado altíssimo, e o país soube explorá-la com maestria, transformando a dor alheia em um empreendimento autossustentável e altamente rentável.

O Hospital Colônia de Barbacena foi um verdadeiro polo industrial da alienação. Sua matéria-prima? Pessoas incômodas, que chegavam aos montes nos elegantes “trens de doidos”, uma inovação logística que dispensava o gado para transportar algo ainda mais descartável: seres humanos. Era um sistema eficiente – a seleção era ampla e generosa, abrangendo de indesejáveis sociais a desafetos familiares, garantindo um suprimento contínuo de operários involuntários para as engrenagens do lucro manicomial.

E que força de trabalho exemplar! Sem salários, sem direitos e sem qualquer expectativa de fuga, os internos do Colônia mantinham a instituição em funcionamento. Plantavam, colhiam, construíam e limpavam com uma dedicação que os capitalistas chamariam de invejável. Como benefício, recebiam acomodações projetadas no mais puro espírito minimalista: sem camas, sem conforto, sem dignidade. E os tratamentos? Ah, de vanguarda! Camisas de força para quem apreciava a sensação de um abraço apertado e eletrochoques para os que necessitavam de uma faísca de vitalidade. O progresso da psiquiatria nunca foi tão eletrocutante.

Mas, como todo empresário visionário sabe, é preciso extrair valor máximo dos recursos disponíveis. Quando um paciente tinha a audácia de morrer, seu corpo não era um fim, mas uma nova possibilidade de lucro. Escolas de medicina pagavam generosamente por cadáveres fresquinhos, e assim, a engrenagem girava sem desperdício. Um verdadeiro exemplo de economia circular, onde até a morte encontrava sua utilidade no grande teatro do pragmatismo nacional.

Dessa forma, o Brasil refinou sua habilidade de converter sofrimento em estatísticas e vidas em notas de rodapé. Porque, sejamos francos, louco mesmo é quem acredita que este país algum dia teve qualquer compromisso com a sanidade – ou, pior ainda, com a humanidade.


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