PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: ATAÍDE MENEZES — CATEGORIA CRÔNICA
- Casa Brasileira de Livros

- 12 de ago.
- 2 min de leitura
SOBRE O AUTOR
Ataíde Menezes nasceu em Caruaru - PE; atualmente, mora na capital sergipana. Tem Rubem Braga, Fernando Sabino, Luis Fernando Verissimo e Nelson Rodrigues como cronistas favoritos. Obteve destaque, como cronista, nos seguintes concursos:
Prêmio Off Flip: oitavo lugar (2021), terceiro (2022), destaque (2023) e primeiro lugar (2024).
Antologias do Selo Off Flip: Nordestes (terceiro lugar), +Humor (vencedor), Na Rede (vencedor), Terra (destaque).
Pena de Ouro: semifinalista (2024).
Prata da Casa: terceiro colocado (2024), finalista (2025).
Prêmio Ruth Guimarães de Crônicas, pela União Brasileira de Escritores: finalista (2025).
A CRÔNICA SEMIFINALISTA
Desemprego em família
Over the horizon. É o toque do meu telefone. Atendo:
“Vossa Mercê é cronista?” – perguntou-me o interlocutor. Julguei tratar-se de alguma brincadeira.
“Tento ser”, respondi. “Com quem falo? Ou melhor” – devolvi-lhe o arcaísmo da forma de tratamento –, “qual é a sua graça?”
“Meu nome é Alcaide, o substantivo masculino. Tenho reparado que Vossa Mercê de vez em quando usa palavras de antanho na escrita.”
“O senhor falou o quê, mesmo!? Um substantivo...”
Ele não me deixou terminar e emendou:
“Estou ligando para lhe pedir emprego. Caí no esquecimento, faz muito tempo que ninguém me põe no papel. Haveria como me utilizar em alguma crônica vindoura, por obséquio? Não precisa ser no título. Uma simples aparição no meio do texto, ali pela vigésima linha, já seria de bom grado.”
Tentando me refazer do susto, questionei:
“Por que o senhor não procura um escritor talentoso, senhor Alcaide? Não sei se consigo atendê-lo.”
Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Era como se dissesse: “Um escritor talentoso não toparia o serviço”. Depois, falou:
“Vá me desculpando pelo que vou dizer, mas é que o amigo, a julgar pelas últimas coisas que publicou, anda meio sem assunto...”
Foi a minha vez de ficar calado. Alcaide tinha razão. Talvez eu estivesse desperdiçando uma oportunidade que me bateu à porta. Quantos escritores, afinal, recebem ligações telefônicas de palavras querendo aparecer em alguma página? Ademais, eu tinha lido, não fazia muito tempo, uma matéria de jornal sobre a dificuldade de se arrumar emprego depois de velho. No que diz respeito a mercado de trabalho, pensei, os vocábulos antigos deveriam passar pelas mesmas dificuldades que os humanos idosos. Então resolvi mudar de ideia.
“Talvez eu possa ajudá-lo. Não é nada certo. Já digo, porém, que não vai ser algo grandioso. Um texto chinfrim, quando muito.”
“Está vendo?”
“O quê?”
“Vossa Mercê gosta de uma velharia. Falou a palavra chinfrim.”
“Verdade...”
“Tenho-lhe confiança”, ele disse. E aproveitou:
“Fico muito agradecido. Agora, sem querer abusar, gostaria que também mencionasse uns poucos familiares meus quando escrevesse. Tudo desempregado, infelizmente.”
“E quem seriam?”
“Cacareco e Sirigaita, meu casal de filhos, e Fuzarca, minha esposa. Também um cunhado, Sacripanta, que já teve problemas com a Justiça, mas nada sério. Por fim, meu irmão, coitado, que vive doente. O nome dele é Nosocômio.”
Cáspite, que família!, exclamei em silêncio.




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