PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: CELSO JOSÉ CIRILO — CATEGORIA POEMA
- Casa Brasileira de Livros

- 13 de ago.
- 2 min de leitura

SOBRE O AUTOR
Nascido, em 07/09/1960, na cidade de São Sebastião do Paraíso – MG. Reside atualmente em Uberlândia – MG. Cursou Letras na UFTM, em Uberaba – MG. É mestre em Teoria Literária pela Universidade Federal de Uberlândia. É poeta de gaveta e ocasião, publicou artigos sobre estudos literários em livros e revistas acadêmicas e possui poucos poemas publicados em algumas antologias. Foi finalista IV edição do Prêmio Pena de Ouro 2023; vencedor I edição do Prêmio Prata da Casa 2024; semifinalista V edição do Prêmio Pena de Ouro 2024 e semifinalista II edição do Prêmio Prata da Casa 2025.
OS POEMAS SEMIFINALISTAS
FOI COMO SE...
Foi como se explodisse, intensa, a bolha do
silêncio por sobre os telhados amordaçados.
Fosse a claridade apressada de um arrebol
e teria escutado a sua voz leve avermelhada.
Fosse a súbita incursão de um cometa
pelas paredes obtusas da madrugada e teria
antevisto as trombetas inaudíveis dos anjos.
Foi, todavia e apenas, a suave explosão de
um pensamento, o parto artesanal de um
insight, o imprevisto ranger de uma ideia.
Fugaz, mas não volúvel ou imperceptível.
A ponto de parir um redemoinho mental e
sacudir toda aquela poeira inalienável que
reveste os restos embalsamados do tempo.
Penso haver uma luminosa causalidade que
instiga nossos corações a se debruçarem sobre
as nossas contradições. Encará-las, extrair-
lhes o sumo temporal dos seus desnortes,são dádivas ou propósitos existenciais para
que estejamos quites com a nossa memória.Uma luz abrupta nos interstícios da noiteé um portal, uma senda que nos direciona ao exercício de reler os nossos breviários.E neste lugar, sozinho, ao clarão vivo
das tantas ausências e abandonos, eu
insisto em acreditar nos meus erros.
Eu teria escrito esse mesmo caminho
e teria inventado essas mesmas pedras.
PARA ACORDAR O VOO DE UM PÁSSARO
Medito no canto desterrado das aves urbanas
tão perto dos resmungos de tantos carros feios
e mal-humorados.
Acordo altruisticamente para esses pássaros
que acendem uma luzinha
[bem pequenina]
nas traves sombrias dos nossos pensamentos
e carimbam um gosto lento de arrebol
no reverso dos nossos insights imagéticos.
Partem.
Retornam, porém, sobrevoando os confins
das nossas aerovias e trazem um mapa
abarrotado de viagens transcendentes
e nostalgia existencial.
É triste,
inevitável talvez,
mas estamos abdicando da herança alada
das aves
e já não temos mais ouvidos para as cores surreais
das cidades crepusculares do Al Berto.
Estamos esquecendo a iridescência aeroviária
dos nossos ermos.
Passei a vida mergulhado nas vozes veladas
e veludosas dos meus ventos,
esperando decifrar a iconografia libertária
do pássaro-mago que atravessa as estradas
dos meus ouvidos,
todos os dias.
Tentei desvelar o simbolismo fonético
da sua linguagem mais remota
mas acabei exilado dentro do meu dentro.
Sempre tentando um voo tímido e curto.
Sempre me equilibrando entre dísticos poéticos,
paradoxos
e medos atávicos.
Sinto-me despindo - talvez seja inevitável! -
daquele espectro lírico-alaranjado dos sonhos
que me permitia escutar as cores surreais
dos cenários crepusculares do Al Berto.
Deduzo, então,
que preciso escancarar os meus parênteses,
poetizar as engrenagens das minhas asas,
reciclar os meus mapas de voo
e depois vomitar todos os dejetos
dessa neofobia contemporânea
para que eu não termine os meus dias
com os pés fincados no barro.




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