PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: CÉSAR HENRIQUE DE PAULA BORRALHO — CATEGORIA POEMA
- Casa Brasileira de Livros

- 7 de ago.
- 2 min de leitura

SOBRE O AUTOR
Nascer em Codó, interior do Maranhão, e ser trasladado, ainda recém-nascido, para a capital, São Luís, não é, para César Borralho, uma simples nota biográfica — é o marco inicial de uma existência moldada entre raízes e deslocamentos. Poeta de travessias líricas e reconhecimentos discretos, sua escrita vem sendo celebrada em distintas geografias da cena literária brasileira. Seus versos conquistaram o primeiro lugar em concursos nacionais realizados no Maranhão, no Rio de Janeiro e na Paraíba, compondo uma trajetória de premiações que atravessa o tempo sem pressa. Também foi laureado com o Prêmio Nauro Machado e figura entre os autores destacados nas edições do Prêmio Gonçalves Dias (2021 e 2022), promovidas pela Academia Maranhense de Letras. Sua obra está presente em antologias e publicações de editoras como Vivara, Patuá, Trevo e Absurtos, além de figurar em projetos culturais da UFMA, do Papoético e da Casa Brasileira de Livros. Em 2024, foi semifinalista do Prêmio Internacional Pena de Ouro, dedicado à produção poética da lusofonia. Sua poesia, firme e serena, é gesto de escuta — e um modo sutil de habitar o mundo com palavras.
O POEMA SEMIFINALISTA
Travessia
É noite de lua minguante.
Os sonhos desvanecem no ar,
as sombras dançam distantes
do náufrago que morreu ao nadar.
A arena amanhece vazia.
Em apoteose o sonhador treina
para a partida sepulta na areia.
A maré arrasta na espuma a insulina
e autoriza na taça a cirrose.
Alheia em tanto cuidado, a manicure
trata as unhas do pé,
amputado por tamanha necrose.
A esperança é funcionária aduaneira,
taxa a fé no resgate e envia
a guarda costeira em busca do corpo
há dias no fundo do mar.
Na travessia implacável do tempo
a serenidade do sal nos vem contar
que a vida é mesmo assim:
— A opulência das morsas
sobrepujada pela altivez do marfim.
As imagens surgem em pares no livro,
páginas gêmeas libertas da história:
uma se rende à fogueira do olvido,
a outra persiste e recria a memória.
O tecido do tempo, manto providencial,
sustenta a sacola puída dos planos;
a gravidade furta elevados desígnios
às profundezas dos abissais oceanos.
A tarde intumesce!
O ocaso está prenhe de aurora.
Se algo se encaixa na brevidade da vida,
uma parte fica e a outra vai embora.
Na desventura, se recomeça menino:
— Forjando a canoa do berço que se perde,
navegando nas águas do avesso destino.




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