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PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: FABRÍCIO LOBO — CATEGORIA CRÔNICA

  • Foto do escritor: Casa Brasileira de Livros
    Casa Brasileira de Livros
  • 9 de ago.
  • 2 min de leitura
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SOBRE O AUTOR


Fabrício Lobo, Natural de Dourados/MS, onde vive em companhia da esposa e dois filhos. Trabalha como médico otorrinolaringologista e, quando possível, se aventura por onde a leitura possa guiar e a escrita deseja ir. Compartilha textos nas Comunidades Trema e Etrus.



A CRÔNICA SEMIFINALISTA


  Círculos na água


Na beira da represa um homem e um garoto atiram pedras na água. O garoto acaba de fazer diversos arremessos diretamente para o fundo. O homem toma uma pedra chata consigo e orienta o garoto a flexionar os joelhos. Coloca sua mão de adulto sobre a mão do menino e a pedra entre o indicador e o polegar e posiciona os braços. Juntos fazem um lançamento que tangencia a superfície, quicando três vezes antes de afundar. Para cada quique há uma porção de círculos concêntricos que expandem sorrisos refletidos em pequenas ondas.

Logo esses círculos irão se entrelaçar e se anular, mas antes de esvanecerem por completo nas margens, homem e garoto já terão partido. Talvez uma efemérida apareça no último minuto beijando a água como se ali houvesse algo para ela, efêmero que fosse, para celebrar seus últimos minutos. 

Ah, vicioso círculo esse que nos é infligido onde, em que pese o peso da pedra, o ângulo de lançamento ou a precisão do giro, tudo acaba em um leito plácido. Tampouco nos é permitido apego a memórias, já que essas efemérides não passam de vislumbres de risos, saltos e padrões circulares - e também elas desaparecerão em obscuras profundidades.

Voltassem nesse segundo o homem e o garoto à mesma margem não poderiam replicar os mesmos quiques ainda que lhes fossem entregues as mesmas pedras. Nem o garoto e seu filho reproduziriam as mesmas ondas, nem o homem e seu pai seriam capazes de fazer os círculos se recolherem ao ponto inicial, reagindo àquele primeiro impacto. E se retrocedêssemos a cena até que a água devolvesse a pedra aos atiradores, e se assim procedêssemos mil vezes, dois mil indicadores e polegares diferentes as receberiam de volta. 

Nada disso, afinal, é possível, já que o homem e o garoto se foram. A pedra está para sempre perdida. A efemérida não tem mais nem vinte e quatro horas de vida. E os círculos já quase não encrespam mais a represa. 

Assim também nossos únicos momentos estão contados, todos eles. Resta muito pouco tempo para sermos mesquinhos antes da água serenar totalmente.


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