PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: MARIA DE FÁTIMA NUNES PEREIRA — CATEGORIA CRÔNICA
- Casa Brasileira de Livros

- 8 de ago.
- 3 min de leitura

SOBRE A AUTORA
Meu nome é Maria de Fátima Nunes Pereira, nascida em 1953, na cidade do Rio de Janeiro. Vim com meus pais e irmãos para Brasília, em 1973, onde me casei e tive 3 filhos, e também me formei pela UnB em Pedagogia, e logo depois me tornei professora na SEEDF, e 25 anos depois me aposentei. Continuo a gostar de ler e escrever, habilidades que alimento desde a adolescência, pois tive um pai que era autodidata, amante dos livros. Gosto de praticar corrida e outras atividades físicas, o que ajuda muito meu corpo e mente. Atualmente tenho preferido livros que abordem neurociências, e sou fã de artigos, reportagens e pesquisas sobre longevidade.
A CRÔNICA SEMIFINALISTA
Inesperado
Na parada de ônibus, as pessoas se amontoavam, protegendo-se da forte chuva. Uma mulher jovem chegou segurando uma sombrinha transparente, que o vento sacudiu e arremessou para fora dali. Os veículos passavam pelas poças formadas na rua, e lançavam uma lama fina e fria em direção ao local, assim, até quem não se conhecia, se apertava, fora de um abraço.
De vez em quando, alguém espichava o pescoço para ver se o ônibus que esperava estava chegando, e, se positivo, acenava com a mão e corria para pegá-lo, cobrindo a cabeça com alguma coisa que estivesse segurando, porque a chuva não dava trégua. Outros reclamavam da demora, outros pelo mau tempo, outros se resignavam, e outros espiavam o celular, vendo as mensagens ou se distraindo.
Um casal de velhinhos, sentados na ponta do único banco, encolhia-se, juntando-se a dois adolescentes que, de pé no banco, gritavam por um outro colega do outro lado da rua, que desapareceu em meio à confusão de carros, ônibus, motos, ônibus e chuva.
O pipoqueiro encostou seu carrinho detrás da marquise, onde uma mãe com duas crianças estavam também. Uma delas puxava a blusa da mãe e falava que queria pipoca, mas a mãe, atenta à chegada do coletivo, não ouvia.
De repente, de dentro de um ônibus, foi lançado um embrulho amarelo, envolto com um barbante. Ele atingiu em cheio a moça da sombrinha, que o agarrou meio perplexa, mas logo o soltou, temerosa. O embrulho caiu no chão, e todos recuaram, sem mais se preocuparem com a chuva, que continuava, indiferente ao acontecimento.
Houve um alvoroço. Uns fizeram menção de correr, mas, por curiosidade, ficaram observando o estranho embrulho. O que havia nele? Quem o teria jogado?
Um menino, de uns dez anos, se aproximou do pacote, fez uma cara de valente, deu um chute nele, e se escondeu no meio do povo. Um senhor de cabelos brancos e de óculos, falou: “- Está parecendo um livro, pelo formato”. A moça, atônita, se abaixou e tentou, num gesto rápido, desfazer o laço do barbante. E todos se afastaram de novo, mas não saíam dali. Uma senhora que carregava um cão pela coleira, o fez ir próximo ao pacote, para ver se ele farejava alguma coisa, mas logo o arrebatou para si.
A moça, com cuidado, puxou mais o cordão, que, enfim, se soltou. Um silêncio se fez. Só o barulho da rua. O papel se abriu e apareceu uma caixa sem tampa contendo uma capa de chuva transparente, e, sobre a capa, um bilhete aberto que dizia: “- Filha, você esqueceu sua capa. Pedi para seu irmão lhe entregar, pois você não pode chegar molhada ao seu compromisso. Ele foi de ônibus. A.: Pai”.
Quem estava ao redor, ficou boquiaberto, e a moça, que nem família tinha, pois vivia sozinha, vestiu a capa, guardou o bilhete, alcançou a sombrinha e foi toda feliz se apresentar no seu novo emprego.




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