PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: RENEU BERNI — CATEGORIA CRÔNICA
- Casa Brasileira de Livros

- 14 de ago.
- 2 min de leitura

SOBRE O AUTOR
Reneu do Amaral Berni, Engenheiro Agrônomo, 82 anos, nascido em São Luiz Gonzaga, RS, autor do livro OUVIDOS, VIVIDOS E RIDOS – CAUSOS DE GAÚCHO, Editora Martins Livreiro-Porto Alegre; desde 1984 residindo em Goiânia, GO, compositor e apreciador de haicais sazonais brasileiros, premiado em alguns concursos nacionais e prestes a lançar o livro HAICAIS SAZONAIS BRASILEIROS ILUSTRADOS, com versões em inglês, espanhol e francês.
A CRÔNICA SEMIFINALISTA
CINE LUX
Na década de 50, na minha pequena e gaúcha São Luiz Gonzaga, as matinês de domingo, no Cine Lux, traziam desenhos, como do Pato Donald e do Mickey, seriados—Maravilhoso Mascarado, cujos episódios terminavam sempre com aquele herói urbano em grande perigo — e “farvestes”, com o mocinho Roy Rogers e seu cavalo Trigger, mais Bullet, seu cachorro, ou Durango Kid e seu cavalo Topper. Ambos, assim como outros, sempre com seus inseparáveis e mágicos revólveres de infindáveis cargas.
Naquela época, frangotes de puas nascentes curtiam platônicas paixonites pela cantante e sonhadora Tammy—Tammy, Tammy, Tammy’s in love...—, enquanto esperavam pelos quatorze anos, liberadores dos opulentos e inspiradores predicados da rumbeira Maria Antonieta Pons para seus olhos curiosos e virgens.
Mães e tias ensopavam lenços, às quartas-feiras, “dia do belo-sexo”, com direito a meia entrada, por culpa de chorosos dramalhões mexicanos, geralmente estrelados por Libertad Lamarque, onde heroicas madrecitas eram puro sacrifício e coração por sus hijas, desviadas para cruéis e traiçoeiros caminhos.
A nossa turma de guris aprontava suas travessuras. Antes das matinês, havia a troca de revistinhas e nós, que mal tínhamos condições de comprar uma do Cavaleiro Negro e, olhe lá, alguma do Tarzan ou do Buffalo Bill, juntávamos as nossas e nos revezávamos frente a um menino rico, filho do melhor médico da cidade, que descia de um carro, com chofer, sobraçando uma pilha de gibis caros, inclusive almanaques que só se conseguiam por encomenda postal. Chegávamos para o “quer trocar?” e fazíamos questão de antes conhecer os dele, vingando-nos, ao vê-los, dizendo “já li” a todos. Outra façanha era, quando não havia lugares vizinhos vagos—gostávamos de ficar juntos—, a entrada em ação do nosso especialista em “chocos” contínuos e silenciosos, que ocupava, inocentemente, uma única cadeira disponível e os soltava, abrindo um clarão ao redor.
Tínhamos também o costume, quando a sessão terminava, de esperar o pessoal sair para, sem dar na vista, percorrermos as fileiras em busca de caramelos e moedas que, por acaso, tivessem ficado no chão.
Para dizer que não éramos só de traquinagens, alguns filmes nos causaram profunda tristeza. Recordo, especificamente, de dois: um, sobre a Guerra Civil Americana, onde um soldado, que morreu em combate, tinha um cachorro e este permanecia ganindo baixinho junto a sua cova, por dias e dias. Outro, sobre a santa guerreira Joana D’Arc, heroína francesa, que foi acusada de bruxaria por um bispo da igreja católica e sentenciada à morte numa fogueira, aos 19 anos.
Numa data marcante, a tímida e quadrada telinha do Cine Lux alargou-se toda, e até se envaideceu um pouco, para receber a ilustre visita do Rei Artur e Seus Cavaleiros da Távola Redonda, na inauguração dos filmes em Cinemascope.
Naquele tempo, na minha pequena cidade, uma grande saudade já nascia, só que eu, por pouco entender da vida, dessa verdade não sabia.




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