PENA DE OURO 2024 | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: VLADIMIR QUEIROZ — CATEGORIA POEMA
- Casa Brasileira de Livros

- 8 de ago.
- 2 min de leitura

SOBRE O AUTOR
Vladimir Queiroz da Silva (1962), natural de Feira de Santana (BA), graduado em engenharia química, com especialização em engenharia de petróleo. Membro da Academia Feirense de Letras.
Publicou os livros: Seres & Dizeres (1995), Terracota (2001), Infantilis (2003), ABCdito e outros ditos mais (2003), Apokálupsis do Sertão ( 006), Luminescência (2008), Instinto (2010), Alcatruz (2011), Nuances (2012), Muxarabis (2015), Brasileirança (2016); Kairós (2020), Kara wã (2022), Tropo (2025). Sagittarius (2025)
O livro Nuances foi publicado em Portugal, Romênia, Colômbia e Itália. O livro Luminescência foi publicado na Itália. O livro Muxarabis foi publicado na Romênia. O livro Kairós foi publicado na Itália, Romênia, Chile e Albânia.
Participou de diversas antologias e revistas no Brasil, Colômbia, Portugal e Romênia.
O livro Kara wâ recebeu o Prêmio Book Brasil 2022 - melhor livro de poesia. O livro inédito Abayomi recebeu o Prêmio Literário Cidade de Manaus 2024 - melhor livro de poesia.
Participou de eventos literários internacionais como conferencista em Portugal, Colômbia, Itália, Romênia e Moçambique.
A poesía de Vladimir Queiroz busca inspiração no escondido das coisas, nos contornos indefinidos, nas transparências, nas imagens nebulosas ou não vistas, repeta de um olhar fulminante dessas pequenas sutilezas despercebidas. São imagens cotidianas com uma forte preocupação no trabalho exaustivo da linguagem e na exaltação do belo.
O POEMA SEMIFINALISTA
MARCHA
As formigas caminham
uma após a outra
em fila indiana
divinizando o futuro
próximo,
ainda sem conhecer
a Índia
nem os elefantes que lá habitam
comungam
da mesma forma de caminhar.
Mas como compreendem o que pode
vir amanhã?
Baudelaire se pudesse
traria uma explicação metafísica;
Proust uma outra mais avançada.
Os arautos perpassariam
pelo umbigo um piercing e trariam à tona
as estranhas
estranhas.
Os pescadores, talvez, enfiariam um fino anzol
pela língua
e trariam à tona a fala,
enfileirada por um rabicho de pipa
aos pensamentos mais profundos
e se jogariam ao mar.
E gritariam um afogamento mudo
por não saber nadar.
Perpetuariam, assim, a ladainha ouvida
pelo deserto por anos a fio.
E conduziriam os rebanhos pelos penhascos,
pelas vielas
e retornariam sempre ao ponto de partida,
com uma lamparina
de um azul intenso
derramado da chama
de parafina.
Poderiam ver o infinito
oblíquo
oblongo
e tão longo
e tortuoso
que soltariam o lodo
do outro lado das pradarias
e campos relvados,
para ruminar a matéria mastigada
como uma fibra indigesta,
gestada por nove meses
num ventre impuro
por sobre um monturo de germes,
e o gemido farto
se refestelasse
por sobre a planície oval
translúcida
e acompanhasse o grito
da rapinante voz que ecoa
e voa.
Plaina e vê todo o ângulo oculto
e diminuto,
escondendo o detalhe revelador
da vergonha.
E reza a cada hora incerta
a certeza da fé do profeta.
Vai a seta com a cicuta
atingir a garganta que traz
à mostra as faíscas dos neurônios
que entraram em curto-circuito,
e cegaram a vista daquele que passa e caminha,
que nem formiga uma atrás da outra
em fila indiana.
E não saberia talvez soprar o argueiro
desenrolar o novelo
e novinho em pelo
galopar pelos vales relvados,
sentindo a brisa sobre o dorso,
as ventas ofegantes,
selvagens e etéreas,
passando por sobre as pedras do caminho
e desgarrando-se da trilha,
traçada pelas formigas em marcha.




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