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PRATA DA CASA | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: AUKAI LEISNER

Foto do escritor: Casa Brasileira de LivrosCasa Brasileira de Livros

SOBRE O AUTOR


Aukai Leisner gostaria de escrever coisas sérias mas não consegue.



A CRÔNICA SEMIFINALISTA


VOU DE TÁXI 


Sexta-feira passada peguei um táxi pela primeira vez em cinco anos porque 1) eu precisava levar meu celular, que tinha caído na privada algumas horas antes, numa assistência técnica decente, já que na loja da esquina o atendente/dono (tiozinho de 60 e poucos anos, vibe de aposentado que manda áudio de Whatsapp sem som) me disse que "Putz, hoje não tenho mais horário… traz aí na segunda que eu vejo pra você. MAS PODE USAR TRANQUILO ENQUANTO ISSO!" e 2) eu não conseguia chamar um Uber com meu celular que tinha caído na privada algumas horas antes.


Foi assim:


A IDA


Intercepto um táxi que está passando em frente ao meu prédio justo quando eu saía à procura de um carro (porque eu não conseguia chamar um com meu celular que tinha caído na privada algumas horas antes):


-Opa! Tá livre?

-Ô, patrão, claro.


O carro era padrão - Onix 2020 - e o motorista era padrão também: tiozinho careca e barrigudo, circa 1950. Conversador; sobretudo, xingador:


-Puxa, muito obrigado, hein. O senhor caiu do céu, porque eu tô sem celular e ia ter que andar um bom tempo até achar um táxi livre.

-Pois é, né, esses VAGABUNDO não querem nada com nada. Querem ganhar como a PORRA do dinheiro, né? Te falar, viu? Aí o FILHO DA PUTA reclama depois que não tem serviço! 

-É… 


Sem transição nenhuma, ele emenda:


-Mas vou te falar que FILHA DA PUTA mesmo são essas operadora, né? PUTA QUE ME PARIU! Cancelei a MERDA da Tim esses dias e os CORNO vieram me cobrar multa. Ah, mas NEM FODENDO, né? Liguei lá e falei: olha, vocês VÃO TUDO TOMAR NO CU de vocês, multa É MINHA ROLA!


Eu, entre estupefato e hungry for more, digo apenas:


-É, operadora é FODA! (um "FODA" sonoro, à vontade, que a essas alturas nem é mais palavrão).


Foi a senha para mais 20 minutos desse maravilhoso festival de enxovalhos (cuja reprodução aqui foi censurada) que não terminou nem com a chegada ao destino, mas só quando encontrei uma brecha entre um CARALHO e um CORNO DO CARALHO pra dizer que precisava descer porque estava com pressa.


-Claro, patrão, vai lá cuidar da vida. DEUS TE ABENÇOE.


///


A VOLTA


Peguei um táxi no mesmo ponto em que tinha descido porque, na assistência técnica decente, o rapaz (20 e poucos anos, corrente de prata e gel no cabelo, pinta de quem manja de conserto de celulares) me disse que ia ter que trocar a tela e que só ia ficar pronto no dia seguinte, de modo que eu ainda não podia chamar um Uber e pagar mais barato com um motorista, digamos, less colorful.


O carro, novamente, padrão: Voyage, 2018. O condutor, então, um arquétipo: magrão, voz de fumante com sotaque forte de polaco, camisa social amarrotada, circa 1945.


-Tarde. Pra onde?


Passei o endereço e ele já começou um papo sobre o tempo, que depois passou por carros antigos e histórias de passageiros - conversa que durou aproximadamente 20 minutos, da qual eu entendi com clareza exatamente quatro palavras ("tempo", "carro antigo" e "passageiro"), para a qual contribui com meia dúzia de "pois é" e "veja só, que coisa!" e que terminou com nosso nobre condutor me pedindo um isqueiro pra acender um cigarro antes da corrida seguinte.


Empresto o isqueiro. Ele acende o cigarro sem sair do carro, me devolve o isqueiro, sorri e diz:


-Obrigado, filho. DEUS TE ABENÇOE.


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