
SOBRE O AUTOR
Residente do interior paulista, Henrique Siviero é bacharel em física e professor. Escreve sobre o que lhe desperta na vida, de experiências particulares às fantasias e tradições, enquanto busca retratar as vivências e os sentimentos de uma juventude interiorana, por vezes bucólica, por vezes agonizada e explosiva neste meio que mistura o caipirismo da tradição restante com o mundo moderno. Trabalha atualmente na revisão de um romance que pretende publicar em breve. Possui contos e poemas já publicados pela Amazon, dentre eles, estão os títulos "Cruiz Credo" e "Meia Dúzia de Poemas", que inclui o poema "Coisas Paradas", semifinalista do concurso Prata da Casa.
Divulga o trabalho através da página no Instagram @henrique.siviero
O POEMA SEMIFINALISTA
Coisas Paradas
Coisas imóveis no fim da tarde branda
O cinza claro de um dia nublado
Objetos da casa, na luz acinzentados
Espalhados na sala, no quarto e na varanda
É tanta matéria inanimada
E só uma a mover por entre o espaço
Que sobra entre a solidez da passada
Um cenário imóvel, fixo, inalterado
No quadro este mistério se faz sem querer
Por que se move o passo pela perna?
Se todo o demais não escolhe se mover
Se não pela pela maré talhando a força externa
É tudo estático, chumbado ao chão
Que o tempo não tem nenhuma razão de ser
E, pelo tempo ser medida da moção,
Não passa a hora se nada se mover
Mas de pronto um ruído rompe a imobilidade
O estampido breve de um mísero impacto
Fenômeno que restaura o dinâmico dramático
O choque da gota que perde a integridade
É chuva o barulho que vem mais fugaz
Contra a janela de vidro impenetrável
Então não posso dizer que em mim é capaz
De manter-se a firmeza imperturbável
Desfaz-me com o zimbro, o gotejo sublima
No meio-fio da rua as penas se esvaem
As nuvens cinzas que correm lá em cima
Na torrente remota das águas que caem
Esta enxurrada que vem, nos ciscos fluindo,
Há de rodar um moinho disforme
Que bate a pedra contra os grãos conforme
A água se mistura num movimento infindo
Ah, o brilho na calçada antes da água secar
Cada folha caída foi entregue ao martírio
A simples estampa que é capaz de deixar
O imaginário entretido no mais lúcido delírio
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