SOBRE A AUTORA
Sou natural do interior de São Paulo, de onde trago o acento de minha fala, muitas histórias e as memórias de infância. Aqui no Paraná, desenvolvi minha atividade profissional de médica neurologista, atendendo pacientes portadores de doenças raras. A vida me selecionou para ser a mãe da Izadora e do Francisco, dois pré-adolescentes cheios de criatividade, de quem aprendo - a cada dia, as lições práticas do amor. Literatura é o meu resgate, a minha voz: e a voz que empresto, dos grandes e imortais, para narrar meus passos . A arte me enleva e é minha epifania.
Um dia, hei de escrever meu próprios livros.
O POEMA SEMIFINALISTA
Eu quis ficar mais um pouco
No esquadro deste teu corpo
Eu quis ficar mais um pouco
Enquanto o tempo escorria
Pelo abismo das pupilas
No esquadro deste teu corpo.
Eu quis ficar mais um pouco
Na calmaria do sono
Entre lençóis feitos dunas
Grãos caídos dos segundos.
Eu quis ficar mais um pouco
Abaixo da linha das unhas
Por detrás do torso, em toque
Eu quis ficar mais um pouco,
pressionando
pouco mais fundo,
ali onde o fio da garra
está prestes a ferir, e dói.
Entre o perfume da pele,
E a textura dos pelos
No esquadro deste teu corpo
Eu quis ficar mais um pouco
Na saliva que junta e enlaça
os peixes livres dos lábios.
No esquadro deste teu corpo
Eu quis ficar mais um pouco
mastigar um sopro mais morno,
cantar um suspiro sereno,
Eu desejei engendrar-me
No sonho por trás das pestanas
E no teu cerne de líquen,
Ser flor.
Eu quis
ficar mais um pouco
No arroubo que passou,
Na esquina da mera quimera
Das partidas e dos pousos,
Eu quis ficar mais um pouco.
Mas a medida era tua,
Esquadro agudo.
Teu ouvido, mouco.
Meu falar, mudo.
Um ângulo obtuso
Que não coube no cubo.
Pássaro louco
Que quis ser tudo...
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