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2º PRATA DA CASA | CONHEÇA OS SEMIFINALISTAS: JESSICA THALITA WRZESINSKI MOTA — CATEGORIA CRÔNICA

  • Foto do escritor: Casa Brasileira de Livros
    Casa Brasileira de Livros
  • 23 de jul.
  • 2 min de leitura
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SOBRE A AUTORA


Chamo-me Jessica Thalita Wrzesinski Mota, nascida em 1992. Sou filha de Laranjeiras do Sul, Paraná, mas há tempos encontrei em Curitiba um lar. Foi aqui que me formei em Medicina, pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná, e me especializei em Medicina de Família e Comunidade, uma escolha que me mantém próxima das pessoas e de suas histórias. Sou casada com um brasiliense, parceiro de vida e de sonhos, que me acompanha em cada passo dessa jornada. Desde criança carrego comigo o amor pelas palavras. Escrever sempre foi meu refúgio, meu jeito de dar forma ao que inquieta ou transborda. Assim nasceu Hipomatose Crônica: do incômodo de uma visão pela janela, que virou revolta, que virou texto. Para mim, escrever é remédio, um modo de tratar as dores do mundo e as minhas também.



A CRÔNICA SEMIFINALISTA


Hipomatose Crônica


Eu sou uma menina que veio do mato. O mato me tem e eu o tenho. Mas, como toda boa menina do mato, um dia fiz as malas e vim para a capital. Vim me dar bem, ser o futuro da família. E por muito tempo fui a menina do mato na cidade; com medo e orgulho de ouvir: ela é muito bicho do mato. Porque dentro da timidez existe um segredo bem guardado: a essência do mato, o verde vivo dentro de mim.

Fui trabalhando, estudando, deixando um pouco do mato por onde passei, nos lugares que toquei, nos abraços que dei, nas trocas que fiz. Fui espalhando o mato nas ruas, nas pessoas, até perceber que ele ia minguando dentro de mim. Foram-se vinte anos de cidade quando comprei meu primeiro apartamento. E o que mais gostei nele não foi a localização, nem o espaço, nem a vista do horizonte. Foi o mato. Da sala, do quarto, da janela, vejo um enorme terreno baldio. Meu mato. Lá tem um mamoeiro, gatos de vizinhos fazendo estripulias e namorando, florzinhas que nascem sem permissão. De vez em quando, jogo da janela um caroço de fruta, na esperança de cultivar um pomar clandestino. À noite, os grilos fazem serenata e, nesse pedaço de mato encravado na capital, eu me conecto comigo mesma. É minha paisagem mais bonita. Meu lar. Já chorei para ele, já cantei, já fiz dele meu confessionário. E ele sempre me devolveu o olhar com doçura, me reconhecendo menina todas as vezes.

Até ontem.

Ontem aconteceu a pior desgraça. Colocaram um contêiner no meio do terreno. No meio do meu mato. Um trambolho de ferro, um tumor de concreto e cimento. Uma pedra pesando sobre o meu peito. Sei bem o que isso significa. Sei o destino dos terrenos baldios na cidade. Primeiro vem o contêiner, depois as estacas, os tapumes, as máquinas, e então o veredicto: tijolo sobre tijolo até que não reste nem uma folha. Agora vivo com medo. Medo do mato não me ter mais. Medo dos gatos não terem onde namorar. Medo de que ninguém enxergue a criança dentro de mim quando ela gritar. Medo de que eu precise voltar para o mato porque estou anêmica, desnutrida, raquítica.

Diagnóstico: hipomatose crônica.

Crônica porque já faz tempo que eu negligencio a falta que a seiva me faz.




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