Apresentação do Livro dos Finalistas de 2022
- Casa Brasileira de Livros
- 27 de jun. de 2023
- 12 min de leitura

Leia, em primeira mĆ£o, o texto de Apresentação do Livro dos Finalistas do Pena de Ouro do ano passado (2022)! š¤©
O livro serĆ” publicado dentro de alguns dias, porĆ©m abrimos ao nosso pĆŗblico o texto de apresentação. Para conferir, rolar para baixo desta pĆ”gina. š
Esperamos que gostem! š„°
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Apresentação
CĆ¢ndido LuĆs Vasques
O Pena de Ouro consolida-se. Chegamos Ć nossa terceira edição: cumprimo-la! NĆ£o posso deixar de lembrar do inĆcio, das dificuldades, dos medos, temores, anseios ā em nos lanƧarmos numa aventura como esta. Vencemos. O nosso prĆ©mio Ć© um sucesso cada vez maior e... Bem, jĆ” temos alguma história para contar, nĆ£o Ć© mesmo?
Aproveito este espaƧo para isso. Voltemos a 2020. Ano da pandemia, ano difĆcil. LanƧamos este evento antes mesmo de termos lanƧado os alicerces da Casa Brasileira de Livros. O que era esse tal āPrĆ©mio Internacional Pena de Ouroā? Que surgia do nada, com jurados de sete paĆses lusófonos, se propondo ser a maior recompensa pecuniĆ”ria para um conto avulso e um poema avulso de toda a lusofonia, sem patrocĆnios privados, sem patrocĆnios estatais, ousadamente sustentado por taxas de inscrição?
NĆ£o foi fĆ”cil. Divulgamos apenas em duas redes sociais: Instagram e Facebook. E nĆ£o Ć© que, no Twitter, havia gente falando que se tratava de uma fraude? Houve quem dissesse que Ć©ramos uma nova versĆ£o do āBabel Book Awardā. Caso o leitor nĆ£o conheƧa, jogue no Google. Eu tambĆ©m nĆ£o conhecia. Tomei conhecimento na ocasiĆ£o. Diz-se, hoje, que foi uma āperformance artĆsticaā... Um suposto prĆŖmio literĆ”rio com um valor estratosfĆ©rico de recompensa; que ninguĆ©m nunca havia ouvido falar e que havia surgido do nada. JĆ” dizendo estar em terceira edição. Com vĆ”rios supostos patrocinadores... Um deles parecia se tratar de uma fundação real, existente, e teve de pedir para que tirassem seu logo da divulgação. Digo, a fundação (suĆƧa, se nĆ£o me engano) existia, nĆ£o o patrocĆnio dela. Enfim, um caso bizarro. Quem quiser saber mais, basta jogar no Google.
Lembro agora, e Ć© fĆ”cil lembrar; mas nĆ£o foi fĆ”cil nos depararmos com o nosso nome associado a isso. Bom, ossos do ofĆcio. O que poderĆamos fazer? Apenas baixar a cabeƧa e trabalhar. Afinal, era recĆ©m a nossa primeira edição.
E essa primeira edição teve vĆ”rias surpresas. Uma delas, acho que nĆ£o mencionada ainda em nenhum lugar, foi o nome do jornalista Tulio Milman entre os finalistas. Para quem nĆ£o sabe, o Tulio Milman Ć© um jornalista bastante conhecido aqui no Rio Grande do Sul. Foi uma agradĆ”vel surpresa ver um nome assim, familiar aos nossos ouvidos ā era como se estivĆ©ssemos nos institucionalizando, nos consolidando. Em termos, como posso dizer? Em termos gaĆŗchos, de quem vive e consome mĆdia e cultura no Rio Grande do Sul, no universo gaĆŗcho, tambĆ©m senti algo parecido quando a Leticia Wierzchowski aceitou ser jurada. Ora, era a autora de āA Casa das Sete Mulheresā! Um romance maravilhoso que foi maravilhosamente adaptado para a televisĆ£o pela Rede Globo, em 2003.
Outra surpresa foi a descoberta do (hoje meu amigo) Rodolphe Roldan-Roldan. O Roldan é um escritor jÔ nos seus oitenta anos, um homem visceral, apaixonado pela escrita. Ele não foi vencedor de nenhuma categoria, mas ficou entre os primeiros colocados das duas. Ou seja, os jurados internacionais lhe concederam a segunda colocação em uma categoria e a terceira colocação em outra! Eu sou suspeito para falar: a sua literatura, o universo roldaniano, me encantou, me arrebatou. Ele é um homem que fez da escrita um sacerdócio. E isso mexe com todo escritor. Ao menos mexe comigo. Hoje, como sou o editor da Casa, temos dois livros dele publicados; e mais dois ainda estão por sair.
Agora um parĆŖntese: Ć© óbvio que estou sendo parcial aqui. Estou falando por alto do que me lembro, dos casos que me chamaram atenção, fazendo como que uma pequena crĆ“nica descompromissada sobre o Pena de Ouro... Ć claro que a organização, a editora, que eu, eu mesmo, CĆ¢ndido, nĆ£o tenho como fazer amizade com todos que passam, com todos que encontramos nesses meios internĆ©ticos (agora me senti meio elomariano...); Ć© humanamente impossĆvel. As coisas simplesmente acontecem.
E outra coisa que simplesmente aconteceu foi a minha amizade com o vencedor da categoria POEMA de 2020, o SebastiĆ£o Burnay. ComeƧamos a trocar mensagens e logo tivemos a ideia de publicar seu livro pela Casa, o belĆssimo livro de poemas e fotografias āEncontros com o mar e o Universoā ā livro, aliĆ”s, que foi lido e aprovado pelo imortal Carlos Nejar, em um encontro memorĆ”vel que tivemos na Morada do Vento, em Junho de 2022. Um dia devo escrever mais a respeito. Nejar lendo os versos de SebastiĆ£o em voz alta, aprovando-os, concedendo a sua benção de poeta maior, consagrado, anciĆ£o, a um jovem poeta portuguĆŖs, irmĆ£o seu nas letras e na lĆngua. MemorĆ”vel, memorĆ”vel! E os meus olhos de editor a contemplar tudo aquilo, satisfeito, pleno em meu dever, na minha missĆ£o neste mundo da poesia e da literatura. Ah, um dia escreverei mais sobre esse momento! Só isso jĆ” me mostrou como conceber e realizar o Pena de Ouro havia valido a pena...
Bem, e tambĆ©m descobri o lado musical de SebastiĆ£o. Escutei todo o seu disco āPĆ”tio do Pimentaā: eram os versos āLisboa, Lisboa, Ć©s uma gaja boa...ā em meus ouvidos e coração durante muitas das minhas caminhadas vespertinas na lusa, gaĆŗcha e brasileirĆssima cidade de Rio Pardo. O que Ć© curioso, pois o fenĆ“meno se repetiria no ano passado e neste ano, ao descobrir que o Ricardo Movits, vencedor da categoria POEMA, tambĆ©m era mĆŗsico. Mas isso eu conto daqui a pouco.
Quanto à edição do livro de 2020, creio que cometemos um erro. Era o livro dos finalistas: obviamente, os vencedores estavam entre eles; e estavam jÔ lÔ, registrados, na internet, em nossas publicações, parecia ser tão óbvio... Que não deixamos assinalados no livro. Corrigimos isso no livro de 2021. Tudo é parte de um processo que se aperfeiçoa; aproveito para registrar os erros, as retificações, de forma a honrar o nosso esforço e evolução.
Outro erro, que convĆ©m registrar e explicar, foi a distribuição dos valores da premiação. TĆnhamos R$ 13.000,00 para distribuir entre os vencedores nas duas categorias; querĆamos ser a maior premiação do gĆŖnero em cada uma delas, para contos avulsos e para poemas avulsos. Qual foi a nossa ideia? Conceder R$ 7.000,00 ao vencedor da categoria CONTO e R$ 6.000,00 ao vencedor da categoria POEMA. Isso tem lógica? Pela lógica, o justo seria repartir igualmente R$ 6.500,00 para cada um... Mas em uma breve (e talvez desleixada) pesquisa, concluĆmos que assim chamarĆamos mais atenção em cada uma das categorias, como se a mĆ©dia da premiação para poemas fosse menor em outros prĆŖmios lusófonos. Talvez atĆ© o fosse. PorĆ©m o pessoal reclamou: acaso um gĆŖnero vale mais do que o outro? Acaso escrever um poema Ć© mais fĆ”cil do que escrever um conto? NĆ£o era essa a questĆ£o, e só agora me cai a ficha sobre outro motivo que nos levou a isso: calculamos de uma maneira mais quantitativa (e tosca), considerando maior o ācustoā de ler os contos, por serem mais extensos em quantidade de caracteres e palavras. Faz sentido? NĆ£o. Mas corrigirĆamos em 2021.
Acho que jĆ” falei bastante da primeira edição. à óbvio que houve muitos outros desdobramentos, outros erros e acertos, outras descobertas e amizades para a vida, outros bons momentos; simplesmente nĆ£o tenho como mencionar tudo, nem cabe aqui. Apenas registro alguma coisa. Ou registo, como dizem nossos irmĆ£os de alĆ©m-mar. Ćs vezes me pego escrevendo como eles, na sua bela ortografia, na nossa bela ortografia.
EntĆ£o veio o ano de 2021. A editora estava a todo vapor. Resolvemos fazer o prĆŖmio mais cedo ā apenas deixar as inscriƧƵes abertas por um bom tempo. Em outras palavras, desleixamos em alguns pontos, justamente pelas outras demandas editoriais. TambĆ©m abrimos as inscriƧƵes para o 1° PrĆŖmio MicroConto de Ouro, inspirado, de certa forma, no sucesso do Pena de Ouro, e na nossa vontade de trazer algo novo para o nosso pĆŗblico de autores; e de espalhar a marca da Casa. Ou simplesmente na vontade de agitar, de fazer acontecer na cena literĆ”ria (o próprio Pena de Ouro nasceu tambĆ©m disso). Como o seu irmĆ£o mais velho, o MicroConto de Ouro tambĆ©m era ambicioso; tambĆ©m queria ser a mais alta premiação do gĆŖnero. E sabe que atĆ© hoje nĆ£o tive notĆcia de nenhum prĆŖmio ou concurso em qualquer paĆs de lĆngua portuguesa que pagasse mais para um microconto vencedor? Realmente, no nosso caso, vale ouro: se calcularmos o valor pago a cada caractere, a cada toque no teclado do autor vencedor... Ć quase o valor do toque da J. K. Rowling para escrever um Harry Potter! Ć sĆ©rio, certa vez eu fiz esse cĆ”lculo, que nĆ£o convĆ©m aqui explicar. TambĆ©m, nĆ£o podia ser diferente: R$ 1.001,00 por um microconto (R$ 501,00 ao segundo colocado e R$ 301,00 ao terceiro)... Somente uma Casa bem maluca como a nossa para fazer isso! Eu soube de um outro que pagava R$ 800,00 ao vencedor... Mas aqui nĆ£o Ć© espaƧo para falar de MicroConto de Ouro.
Enfim, como eu disse, em 2021, segunda edição, corrigimos a premiação: ficou mais justa (e lógica). E nĆ£o só a corrigimos: aumentamo-la. Foram R$ 20.000,00 distribuĆdos entre os trĆŖs melhores colocados (1°, 2° e 3°) das duas categorias, concentrados nos primeirĆssimos de cada categoria (os āPena de Ouroā), que ficavam com R$ 7.500,00. Por um conto e por um poema... Nada mal.
E o prĆ©mio foi se definindo melhor, pelo que ele realmente Ć©, expresso entĆ£o em seu edital: uma forma de reconhecer autores ā um instrumento de reconhecimento. A premiação estava subordinada a isso. Tudo, aliĆ”s, tudo estava e estĆ” subordinado a isso. AtĆ© mesmo a nossa āpirotecniaā de vĆdeos promocionais... Ah, esses vĆdeos: houve quem elogiasse a nossa peculiaridade de divulgarmos vĆdeos promocionais e houve quem a condenasse, chamando disso mesmo, de āpirotecniaā, num sentido pejorativo. Eu, particularmente, fico satisfeito, uma vez que eles (os vĆdeos) chamam atenção, que eles nos diferenciam, mostram como somos peculiares e originais em nossa empreitada. E mesmo essa nossa busca pela integração da lusofonia era (e Ć©) nada mais do que um delicioso objetivo secundĆ”rio que tambĆ©m dĆ” o tom, a particularidade, a identidade do prĆŖmio. E tambĆ©m estĆ” subordinado ao objetivo maior, Ćŗltimo, essencial, que Ć© o reconhecimento.
No corpo de jurados, houve mais uma novidade: os dois vencedores foram convidados a participar. Na primeira edição, havia ficado assim: JosĆ© LuĆs MendonƧa (de Angola)... Ah, tambĆ©m fique registrado: o JosĆ© LuĆs MendonƧa foi o primeiro jurado a aceitar participar. O primeiro de todos, o primeiro da primeira edição. Eu estava com o coração na mĆ£o... Uma hora eu falo mais sobre isso. Voltando, pois, havia ficado assim: JosĆ© LuĆs MendonƧa (de Angola); Juliana Amato e Leticia Wierzchowski (do Brasil); Tony Tcheka e Abdulai Sila (de GuinĆ©-Bissau); Orlando Piedade (de SĆ£o TomĆ© e PrĆncipe); Alvaro Taruma (de MoƧambique); Margarida Fontes (de Cabo Verde); Pedro Chagas Freitas (de Portugal). JĆ” na segunda edição, com os dois vencedores convidados e algumas indisponibilidades que geraram novos convites, ficou assim: Vera Duarte Pina (de Cabo Verde); Rosa Soares (de Angola); Juliana Rabelo (do Brasil); SebastiĆ£o Burnay (de Portugal); alĆ©m dos repetidos do ano anterior, Leticia, Alvaro, Tony e Orlando.
Foi um ano tĆ£o intenso que nĆ£o vi passar, que nĆ£o tive tempo de assimilar com calma. Por isso nĆ£o tenho muitas lembranƧas especĆficas: foi tudo acontecendo ao mesmo tempo, muitos compromissos, o Pena de Ouro no meio de tudo... E no meio de tudo, nasceram algumas āfloresā, algumas coincidĆŖncias, vejam só: na categoria CONTO, o 1° colocado foi āFlor de Caiporaā e o 3° colocado, āFlor inviĆ”velā. Qual a probabilidade de algo assim acontecer? Eu sempre pasmo com essas coincidĆŖncias!
E jĆ” que falamos dessas āfloresā, aproveito para corrigir um erro na edição do livro de 2021: nĆ£o trouxemos a pĆŗblico as palavras que a jurada internacional Vera Duarte Pina (escritora, poeta, desembargadora, ex-ministra da Educação de Cabo Verde) escrevera sobre o conto vencedor, palavras que merecem ficar registradas, assentadas em livro, para consulta. Ei-las:
Devo, contudo, acrescentar que o conto āFlor de Caiporaā, a que atribuĆ a pontuação mĆ”xima, trata-se de um texto extraordinĆ”rio que aborda de forma desassombrada as contradiƧƵes da natureza humana, as suas patologias, as suas exacerbaƧƵes, mas de onde emana, com voracidade, uma luminosa pulsĆ£o de vida. Por isso me sensibilizou particularmente.
Não solicitamos que os jurados façam comentÔrios sobre suas notas, apenas pedimos estritamente o que estÔ expresso no regulamento. Isso partiu dela, de livre e espontânea vontade. Bacana, não?
O autor do conto Ć© o talentosĆssimo Gabriel Figueiraes, com 20 ou 21 anos na altura da premiação. Ć incrĆvel como alguĆ©m tĆ£o jovem possa escrever tĆ£o bem! Gravem as minhas palavras: Gabriel Figueiraes serĆ” um dos grandes autores da nossa literatura. AtĆ© mesmo a sua apresentação, escrita por ele mesmo, em primeira pessoa, Ć© deliciosa de ler!
Convidamo-lo para compor o jĆŗri internacional de 2022 e ele aceitou. Assim como o outro vencedor, da categoria POEMA, o Saul Cabral Gomes JĆŗnior. O caso do Saul Ć© interessante: ele havia sido semifinalista em 2020; e em 2021 nos brindou com o excelente, profundo e complexo poema āTrajetória do ser-poesiaā. Sinceramente, nĆ£o me sinto capaz de analisĆ”-lo! Apenas recomendo: leia. Leia e me conte. JĆ” aproveite e leia o livro de 2021 todo... Falo de coração: os livros dos finalistas do Pena de Ouro sĆ£o excelentes ā graƧas aos autores, porque eu nĆ£o tenho mĆ©rito nenhum nisso, apenas tenho a sorte de me deparar com tantas pessoas talentosas e ser o organizador de um livro que as reĆŗne.
EntĆ£o, em 2022, o corpo de jurados ficou assim: Gabriel, Saul, como representantes do Brasil; os jĆ” conhecidos Tony, Vera, Orlando, Alvaro, SebastiĆ£o e Rosa; e uma novidade, surgida quando o prĆŖmio jĆ” estava em andamento, quando conseguimos contato com o paĆs lusófono mais distante do Brasil, o Timor-Leste: Lukeno Alkatiri. Pela primeira vez, conseguimos representar todos os paĆses independentes que tĆŖm a LĆngua Portuguesa como oficial!
(Existe a Guiné-Equatorial também, mas essa é outra história...)
Foi um ano complicado, em que estivemos envolvidos em outra empreitada colossal, a antologia 1001 Poetas, a maior da história do Brasil (ao menos atĆ© onde pudemos ter notĆcia). Foram 1001 poetas contemporĆ¢neos distribuĆdos em dez volumes. Mesmo assim, o Pena de Ouro teve o seu momento, o seu brilho, agora com mais dedicação e experiĆŖncia. Mantivemos a premiação em R$ 20.000,00 aos primeiros colocados, distribuĆdos da mesma forma. A taxa de inscrição continuou a mesma, sempre R$ 120,00 como valor de referĆŖncia desde a primeira edição (ainda que tivĆ©ssemos aumentado a premiação na segunda edição). E fomos brindados com o presente livro: um belĆssimo resultado!
Livro este que tambĆ©m tem lĆ” algumas coincidĆŖncias... Ou āconvergĆŖnciasā? Como poderĆamos colocar? Bem, se em 2021 falĆ”vamos de flores, neste livro, de 2022, encontramos uma semelhanƧa no modo como sĆ£o apresentados os personagens, com o āPaiā e a āMĆ£eā e quejandos, no conto terceiro colocado, āEloĆ”ā, e no conto finalista āA FamĆliaā... Enfim, nĆ£o poderia deixar de pontuar. Ć interessante, interessante esse tipo de coincidĆŖncia, ao menos para pessoas como eu. NĆ£o vou entrar muito a fundo na anĆ”lise desses dois contos; mas um termina de forma mais trĆ”gica e outro mais feliz. Descubra, leitor.
Agora, a principal āconvergĆŖnciaā, como se esta obra pedisse uma unidade, clamasse por um diĆ”logo interno entre suas partes, como se naturalmente tivesse destinada a se agregar... A principal convergĆŖncia, consigo encontrar (ou vislumbrar) nos vencedores! Posso estar delirando ou falando bobagem, mas sabe, leitor, sabe, leitora, aquele papo dos antigos de ābom, belo e verdadeiroā? Ora, o poema vencedor explicitamente trata do verdadeiro, da Verdade; e o conto, por seu turno, da Beleza. O belo e o verdadeiro. Faltou o ābomā nessa trĆade ā a Bondade. Onde ela estaria? Em que texto? Em que conto, em que poema? A tĆ£o difĆcil Bondade; a tĆ£o surrada Bondade... E mais difĆcil ainda Ć© expressĆ”-la em arte sem cair em insipidez. Curioso, nĆ£o? Talvez por isso nĆ£o a encontremos diretamente em nenhum texto ā ou eu nĆ£o a encontro... Ou nĆ£o quero falar.
O conto vencedor Ć© āAdriabelleā, uma excelente narrativa, bem construĆda, que dialoga com a tradição literĆ”ria ocidental (tal como o nosso ArmĆ©nio Vieira, autor da Casa, PrĆŖmio CamƵes, semifinalista do PrĆŖmio Oceanos): Nem Helena, que causou a guerra, nem TĆ©tis ou a própria VĆŖnus ousariam se comparar Ć minha Adriabelle... Um conto sensacional. O seu autor, Lucas M. Carvalho, jĆ” havia vencido outro grande prĆŖmio literĆ”rio, o PrĆŖmio Barco a Vapor, para livros infantis, o que mostra como a nossa avaliação Ć© consistente ā e como o autor tem seus mĆ©ritos. Ć claro que, ao comentar sobre esse texto sofisticado, falar do tema da āBelezaā Ć© ser propositalmente superficial. Essa Beleza que pode ser assustadora... Afinal, ele pode estar tratando tambĆ©m da Verdade... Que pode ser terrĆvel, assustadora, tal como a Beleza? Mas isso deixo ao juĆzo e siso de quem tiver a felicidade de ler āAdriabelleā.
Diretamente tratando da Verdade, hĆ” o poema vencedor, de um buscador da Verdade, da Verdade esta, com vĆŖ maiĆŗsculo; e ela enfim Ć© encontrada onde todos a encontram e devem encontrĆ”-la. O seu autor, Ricardo Movits, como eu havia mencionado, tambĆ©m Ć© mĆŗsico, e um talento em vĆ”rias outras Ć”reas. Se o leitor gosta de mĆŗsica boa (presumo que sim), escute āBrasĆlia/Novos Astraisā. Escute o disco todo aliĆ”s: āPonte para o InvisĆvel (Nova Era)ā.
Tivemos também a alegria de reencontrar no presente livro alguns autores jÔ conhecidos: Caesar Charone, finalista na categoria CONTO da primeira edição, semifinalista na categoria POEMA na segunda edição, estÔ aqui, agora, como finalista na categoria POEMA; a talentosa poeta Gracielle Cristine Farias Moura, semifinalista em 2020 e 2021, desta vez foi finalista; e Léo Gonçalves, finalista de 2021 na categoria CONTO, foi semifinalista nesta edição na mesma categoria, e finalista também na categoria POEMA, constando neste livro. Esqueço alguém? Talvez. Mas é interessante trazer alguns nomes que estão chegando quase lÔ.
Devo tambĆ©m destacar o segundo colocado na categoria CONTO, Fernando Trevisolli de Britto: esta Ć© a primeira vez (cito isso de cabeƧa, mas acho que nĆ£o me engano) que temos um menor de idade nĆ£o só entre os finalistas, mas entre os trĆŖs primeiros colocados. Que talento, que futuro! Imagina, leitor, imagina, leitora, vocĆŖ ter seu texto alƧado a essa posição por jurados internacionais nessa idade! Como costumo repetir, o Pena de Ouro nĆ£o deixa de āgarimpar ouroā, o que me deixa muito feliz.
Mas jÔ falei demais (e falta fÓlego). Tenho me esquivado de falar. No primeiro livro, falei mais dos textos; no segundo, falei pouco, não tive a oportunidade de falar muito; e neste, quis fazer uma pequena crÓnica (em vÔrios sentidos), registrar a nossa história, que tende a crescer. Fica com você, leitor, a curiosidade. Que mais posso eu dizer?
Quais surpresas mais o Pena de Ouro irĆ” nos trazer?
Quem viver, verĆ”.
Rio Pardo, Maio de 2023
* CĆ¢ndido LuĆs Vasques Ć© editor da Casa Brasileira de Livros, idealizador do Pena de Ouro e organizador do Livro dos Finalistas do Pena de Ouro de 2022.